5 de ago. de 2010

História do Médio Rio Negro é tema de curso e de viagem no tempo

[05/08/2010 14:00]

Organizado pelo ISA e pelas associações indígenas dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos (AM), com apoio da Foirn e das secretarias municipais de educação dos dois municípios, o Curso de história do Médio Rio Negro foi ministrado pelo historiador José Ribamar Bessa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entre 21 e 24 de julho em Barcelos. O curso foi como uma viagem ao tempo passado que estimulou discussões sobre identidade étnica, valorização das línguas indígenas e pesquisas acerca das trajetórias pessoais, memórias e narrativas regionais.

Cerca de 60 participantes, entre professores das comunidades, das sedes municipais e lideranças de associações indígenas, receberam uma coletânea de textos, documentos e livros escritos entre os séculos XVIII e XXI com relatos de viajantes, missionários, historiadores e antropólogos que se debruçaram sobre a história do Rio Negro. Produzido pelo professor Bessa com apoio do historiador Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, da Universidade Federal do Amazonas, o material permitirá acesso a publicações que dificilmente iriam circular nas salas de aula da região. O material não pretende ser exaustivo. Trata-se de uma coletânea de trechos de fontes históricas e etnografias que deve servir de referência para pesquisas mais aprofundadas nas fontes apresentadas e em outras.

Os organizadores acreditam que saber mais sobre a história do Amazonas, e especificamente do Médio Rio Negro, pode despertar curiosidades sobre a história da região, estimulando as pessoas a se aprofundarem nos assuntos discutidos e na busca da trajetória de suas próprias famílias.

Em meio a uma atmosfera descontraída, com humor e dedicação, as histórias e relatos foram discutidos pelos participantes durante os quatro dias de curso.

O arco da memória
A imagem de um arco foi usada pelo professor Bessa para ilustrar as reflexões dos participantes do curso sobre a importância de conhecer o passado: “viajar no tempo”, como disse a vice- presidente da associação indígena de Santa Isabel, Acimrn (Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro), Sandra Gomes de Castro.

No primeiro momento do curso discutiu-se a importância do uso de fontes e registros históricos como orientadores para compreensão dos fatos e eventos ocorridos em uma determinada época e, de que maneira eles influenciaram e ainda podem contribuir para os tempos presente e futuro.
Conhecer a história dos antepassados, ler documentos e conversar com os velhos são etapas do processo de pensar sobre o passado para então organizar o presente e projetar o futuro. “É como atirar com arco e flecha, é preciso um pouco de impulso para trás para então avançar ao futuro. Contudo, temos que tomar cuidado com o recuo para trás para não perder de vista o futuro, para não quebrar o arco”, enfatizou Bessa.

Os depoimentos e debates durante o curso marcaram um aspecto indissociável do processo de busca pelo conhecimento e entendimento do passado: o político. Bessa trouxe para o debate o pensamento de um filósofo francês chamado Gilles Deleuze que diz em seu livro Conversações: “Aquilo que se opõe à memória não é o esquecimento, mas o esquecimento do esquecimento”. O contrário da memória não é o esquecimento, é esquecer que esqueceu. Pois, se não sabemos nem mesmo o que esquecemos, como iremos procurar? Trabalhar a memória, nas suas diversas formas de apresentação – oral, escrita, desenhada – é buscar aquilo que se esqueceu, que se deixou de lembrar, mas que ainda está ali, de alguma maneira registrado.

Leia mais em http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3140

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