30 de set. de 2010

Água doce e ameaçada

Uma análise em escala global, que poderá auxiliar a identificar as áreas em que a disponibilidade de água para consumo estão mais ameaçadas no mundo, é o destaque na edição desta quinta-feira (30/9) da revista Nature.

A pesquisa, feita por cientistas da Austrália, Estados Unidos, Alemanha e China, destaca as maiores ameaças tanto à segurança da água como à biodiversidade nos rios do planeta.

Apesar de a água ser o mais essencial dos recursos naturais, os sistemas de água doce que podem ser usados para consumo humano estão fortemente ameaçados justamente pelo homem, principalmente pela poluição e também como resultado de processos como a urbanização, industrialização, irrigação e a construção de reservatórios.

Soma-se a isso o aquecimento global e o resultado está longe de ser animador. Segundo os autores do estudo, desenvolver alternativas que possam reverter essa tendência exige primeiramente que se tenha um diagnóstico das ameaças à segurança da água tanto no nível local como no global.

Charles Vorosmarty, da Universidade da Cidade de Nova York, e colegas descrevem no artigo um modelo espacial que fornece uma análise global das ameaças à água doce. É o primeiro modelo a considerar a segurança da água usada para consumo humano em conjunto com a biodiversidade aquática.

Além de listar quais são as principais ameaças, o estudo identifica as áreas de maior risco. Segundo o trabalho, grandes investimentos no uso e no tratamento de água nos países mais ricos têm beneficiado seus habitantes, diminuindo em até 95% a ameaça à segurança da água nesses locais.

Em compensação, nos países mais pobres os investimentos reduzidos no setor implicam que a vulnerabilidade ao problema nessas áreas é muito elevada.

Mas, mesmo nas nações mais ricas, de acordo com a pesquisa, os investimentos em massa em tecnologia de uso da água têm permitido “ofuscar os níveis de estresse”, mas sem remediar as causas por trás do problema.

O estudo concluiu que 80% da população mundial está exposta a níveis elevados de ameaças à segurança da água. A falta de investimento no cuidado dos rios e corpos de água doce também coloca em risco a biodiversidade, indicam os autores.

“A proliferação de áreas densamente povoadas em zonas costeiras, incluindo megacidades, implica que seus rios apresentem alto nível de ameaças à segurança da água por virtualmente toda a sua extensão, como, por exemplo, o Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo, o Pasig, em Manila, nas Filipinas, e o Ogun, em Lagos, na Nigéria”, disseram.

Segundo eles, é urgente a necessidade de mobilizar recursos para apoiar abordagens que possam enfrentar o problema. “Sem grandes compromissos políticos e financeiros, contrastes marcantes na segurança da água usada por humanos continuarão a separar os ricos dos pobres”, afirmam.

O artigo Global threats to human water security and river biodiversity (doi:10.1038/nature09440), de Charles Vorosmarty e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em http://www.nature.com/  

Contaminantes emergentes na água

Durante a década de 1990, houve uma redução na população de jacarés que habitava os pântanos da Flórida, nos Estados Unidos. Ao investigar o problema, cientistas perceberam que os machos da espécie tinham pênis menores do que o normal, além de apresentar baixos índices do hormônio masculino testosterona.

Os estudos verificaram que as mudanças hormonais que estavam alterando o fenótipo dos animais e prejudicando sua reprodução foram desencadeadas por pesticidas clorados empregados em plantações naquela região.

Esses produtos químicos eram aplicados de acordo com a legislação norte-americana, a qual estabelecia limites máximos baseados em sua toxicidade, mas não considerava a alteração hormonal que eles provocavam, simplesmente porque os efeitos não eram conhecidos.

Assim como os pântanos da Flórida, corpos d’água de vários pontos do planeta estão sendo contaminados com diferentes coquetéis que podem conter princípios ativos de medicamentos, componentes de plásticos, hormônios naturais e artificiais, antibióticos, defensivos agrícolas e muitos outros em quantidades e proporções diversas e com efeitos desconhecidos para os animais aquáticos e também para pessoas que consomem essas águas.

“Em algumas dessas áreas, meninas estão menstruando cada vez mais cedo e, nos homens, o número de espermatozoides despencou nos últimos 50 anos. Esses são alguns problemas cujos motivos ninguém conseguiu explicar até agora e que podem estar relacionados a produtos presentes na água que bagunçam o ciclo hormonal”, disse Wilson Jardim, professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP.

O pesquisador conta que esses contaminantes, chamados emergentes, podem estar por trás de vários outros efeitos relacionados tanto à saúde humana como aos ecossistemas aquáticos.

“Como não são aplicados métodos de tratamento que retirem esses contaminantes, as cidades que ficam à jusante de um rio bebem o esgoto das que ficam à montante”, alertou o pesquisador que coordena o Projeto Temático “Ocorrência e atividade estrogênica de interferentes endócrinos em água para consumo humano e em mananciais do Estado de São Paulo”, apoiado pela FAPESP.

O aumento no consumo de cosméticos, de artigos de limpeza e de medicamentos tem piorado a situação, de acordo com o pesquisador, cujo grupo encontrou diversos tipos de produtos em amostras de água retirada de rios no Estado de São Paulo. O antiinflamatório diclofenaco, o analgésico ácido acetilsalicílico e o bactericida triclosan, empregado em enxaguatórios bucais, são apenas alguns exemplos.

A esses se soma uma crescente coleção de cosméticos que engorda o lixo químico que vai parar nos cursos d’água sem receber tratamento algum. “Estima-se que uma pessoa utilize, em média, dez produtos cosméticos e de higiene todos os dias antes mesmo de sair de casa”, disse Jardim.

Sem uma legislação que faça as empresas de distribuição retirar essas substâncias tanto do esgoto a ser jogado nos rios como da água deles captada, tem sido cada vez mais comum encontrar interferentes hormonais nas torneiras das residências. Os filtros domésticos disponíveis no mercado não dão conta dessa limpeza.

“Os métodos utilizados pelas estações de tratamento de água brasileiras são em geral seculares. Eles não incorporaram novas tecnologias, como a oxidação avançada, a osmose inversa e a ultrafiltração”, disse o professor da Unicamp, afirmando acreditar que tais métodos só serão incorporados pelas empresas por meio de uma legislação específica, uma vez que eles encareceriam o tratamento.

Peixes feminilizados
Uma das primeiras cidades a enfrentar esse tipo de contaminação foi Las Vegas, nos Estados Unidos. Em meio a um deserto, o município depende de uma grande quantidade de água retirada do lago Mead, o qual também recebe o esgoto da cidade.
Apesar de contar com um bom tratamento de esgoto, a água da cidade acabou provocando alterações hormonais nas comunidades de animais aquáticos do lago, com algumas espécies de peixes tendo apresentado altos índices de feminilização. Universidades e concessionárias de água se uniram para estudar o problema e chegaram à conclusão de que o esgoto precisava de melhor tratamento.
“Foi uma abordagem madura, racional e que contou com o apoio da população, que se mostrou disposta a até pagar mais em troca de uma água limpa desses contaminantes”, contou Jardim.
Alterações como o odor na água são indicadores de contaminantes como o bisfenol A, produto que está presente em diversos tipos de plásticos e que pode afetar a fertilidade, de acordo com pesquisas feitas com ratos no Instituto de Biociências do campus de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Jardim alerta que o bisfenol A é um interferente endócrino comprovado que afeta especialmente organismos em formação, o que o torna perigoso no desenvolvimento endócrino das crianças. Além dele, a equipe da Unicamp também identificou atrazina, um pesticida utilizado na agricultura.
Não apenas produtos que alteram a produção hormonal foram detectados na pesquisa, há ainda outros que afetam o ambiente e têm efeitos desconhecidos no consumo humano. Um deles é o triclosan, bactericida empregado em enxaguatórios bucais cuja capacidade biocida aumenta sob o efeito dos raios solares.
Se o efeito individual de cada um desses produtos é perigoso, pouco se sabe sobre os resultados de misturas entre eles. A interação entre diferentes químicos em proporções e quantidades inconstantes e reunidos ao acaso produz novos compostos dos quais pouco se conhecem os efeitos.
“A realidade é que não estamos expostos a cada produto individualmente, mas a uma mistura deles. Se dois compostos são interferentes endócrinos quando separados, ao juntá-los não significará, necessariamente, que eles vão se potencializar”, disse Jardim.
Segundo ele, essas interações são muito complexas. Para complicar, todos os dados de que a ciência dispõe no momento são para compostos individuais.
Superbactérias
Outra preocupação do pesquisador é a presença de antibióticos nas águas dos rios. Por meio do projeto “Antibióticos na bacia do rio Atibaia”, apoiado pela FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Regular, Jardim e sua equipe analisaram de 2007 a 2009 a presença de antibióticos populares na água do rio paulista.
A parte da análise ficou por conta do doutorando Marco Locatelli, que identificou concentrações de cefalexina, ciprofloxacina, amoxicilina e trimetrotrin em amostras da água do Atibaia.
A automedicação e o consumo exacerbado desse tipo de medicamento foram apontados por Jardim como as principais causas dessa contaminação que apresenta como risco maior o desenvolvimento de “superbactérias”, microrganismos muito resistentes à ação desses antibióticos.
Todas essas questões foram debatidas no fim de 2009 durante o 1º Workshop sobre Contaminantes Emergentes em Águas para Consumo Humano, na Unicamp. O evento foi coordenado por Jardim e recebeu o apoio FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Organização de Reunião Científica e/ou Tecnológica.

O professor da Unicamp reforça a gravidade da questão da água, uma vez que pode afetar de inúmeras maneiras a saúde da população e o meio ambiente. “Isso já deve estar ocorrendo de forma silenciosa e não está recebendo a devida atenção”, alertou.
Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/materia/12846/especiais/contaminantes-emergentes-na-agua.htm

29 de set. de 2010

TEDx Amazônia

O TEDx Amazônia que acontecerá nos dias 6 e 7 de novembro de 2010,  trará o tema : Qualidade de Vida para todas as espécies do planeta. A participação será gratuito.

Mais de 400 pensadores de diversas áreas do conhecimento reunidos em um dos ecossistemas mais complexos do mundo, que se distribui por nove países da América do Sul e é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Um encontro de interesse global que discutirá por dois dias como as nossas ideias podem melhorar a Qualidade de Vida das mais de 5 milhões de espécies do planeta. Cerca de 50 palestras nas quais o ser humano é tão importante quanto o coral marinho. Inscrições abertas até 07.10

Informações: http://www.tedxamazonia.com.br/

28 de set. de 2010

Cinema na praça em Canarana-MT: AVATAR

O celebrado filme AVATAR, do cineasta James Cameron, será exibido para a população de Canarana-MT na praça Sigfredo Roewer (conhecida como praça do avião), nesta terça-feira, dia 28, às 19h30. O evento faz parte da agenda socioambiental realizada em parceria entre o Instituto Socioambiental (ISA), no âmbito da Campanha Y Ikatu Xingu, a Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria do Estado de Educação (Seduc) e a Prefeitura de Canarana.

Cada um deve levar seu banquinho ou cadeira para ficar mais confortável. A pipoca será oferecida pelo Lions club.
O evento tem o apoio de:
ECOAR Comunicações, Lions Club, Araguaia FM, Vida Nova FM, Jornal O Pioneiro, Ana Gonçalves Fotografia e Filmagem e Canarana TV.

http://www.yikatuxingu.org.br/2010/09/27/cinema-na-praca-em-canarana-mt-avatar-2/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=facebook

24 de set. de 2010

Querência está a um passo de sair da lista dos maiores desmatadores da Amazônia

Por ISA, Fernanda Bellei.

Município mato-grossense pode ser o segundo a sair da lista, depois de Paragominas-PA. Em dois anos, Querência conseguiu incluir 72% de suas terras no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Para sair da lista,um dos critérios é que 80% das terras do município estejam incluídas no cadastro.  
Neuri Winck (à direita), proprietário da fazenda Certeza, mostra área em processo de restauração florestal a Paulo Cabral, do MMA, Mauren Lazaretti, da Sema, e Luciano Eichholz, do ISA.
Querência está perto de sair da lista dos maiores desmatadores da Amazônia. O município, localizado na bacia do Rio Xingu, nordeste de Mato Grosso, recebeu representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e da Secretaria Extraordinária de Políticas Ambientais e Fundiárias (Seaf) nesta terça-feira, dia 21, e apresentou os avanços conquistados nos últimos dois anos na regularização ambiental, redução do desmatamento e restauração florestal de áreas degradadas.


Para sair da lista,um dos critérios é conseguir que 80% das terras do município estejam incluídas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). De acordo com dados apresentados pela secretária adjunta de qualidade ambiental da Sema-MT, Mauren Lazzaretti, 72% da área já está cadastrada. Querência entrou na lista dos 42 maiores desmatadores da Amazônia em 2007, devido a um aumento na taxa de desmatamento na área do município registrado na época. Nos últimos três anos, porém, os proprietários rurais deram um exemplo de articulação e conscientização. Além de derrubarem as taxas de desmatamento, iniciaram a restauração de diversas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e desde o final do ano passado iniciaram o processo de adesão ao CAR.

Projeto “Querência Mais”

A mobilização para atingir a regularização ambiental no município está sendo feita por meio do Projeto “Querência Mais”, realizado pelo Condema (Conselho de Meio Ambiente) de Querência, Instituto Socioambiental (ISA) e Grupo de Restauração e Proteção à Água, Flora e Fauna (GRPAFF), com o apoio da Prefeitura Municipal e da Secretaria de Agricultura de Querência. A alta adesão ao CAR, porém, foi uma iniciativa que partiu dos próprios produtores. “Os produtores de nosso município estão conscientes da importância da regularização ambiental e da preservação das APPs em suas propriedades. Este número que atingimos, de 72% do território incluso no CAR, é mérito deles”, afirmou Marcelo da Cunha Marinho, diretor executivo do Condema. Vicente Falcão, secretário-extraordinário de apoio e acompanhamento das políticas ambientais e fundiárias de Mato Grosso, ressaltou a importância da mobilização. “Já vemos um grande avanço em Querência. Agora basta juntar os interesses comuns e seguir nesse mesmo caminho”.

Querência não só avançou no CAR, como também colocou em prática a restauração florestal em diversas Áreas de Preservação Permanente. Os representantes do MMA, da Sema e da Seaf visitaram cinco áreas em processo de restauração com espécies nativas. Três delas, as fazendas Certeza, Schneider e Roncador têm, respectivamente, 4,72 hectares, 17,81 hectares e 19 hectares de APPs em processo de restauração implantado e monitorado em parceria com o ISA.
Rodrigo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu, do ISA, afirma que o trabalho tem sido recompensador.“Temos muito orgulho de sermos parceiros de Querência neste processo. Este é um município que tem conseguido aliar uma grande produção à conservação ambiental”. Mauro Oliveira Pires, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento, do MMA, afirma que a situação do município é bastante favorável. “Fiquei muito impressionado com esse trabalho. É um grande exemplo de parceria entre os produtores, o poder público e as organizações da sociedade civil. Acho que esse trabalho deve ser difundido para outros locais, principalmente as técnicas de restauração de áreas e integração de lavoura, pecuária e floresta”.

Os querencianos destacam, também, que a importância de preservar as APPs já é consenso entre os produtores. “Está fácil convencer o produtor a restaurar a APP, ele sabe que esta terra vai ficar para o filho dele e precisa estar em boas condições. Só precisamos de ajuda do governo agora”, disse Fernando Gorgen, prefeito do município. “Nós temos uma região muito rica em água e sabemos que quem tem luz, calor e água consegue produzir, por isso vamos preservar nossa água”, afirmou Neuri Winck, vereador e presidente do Condema. Por que Querência entrou na lista?

A lista dos municípios que mais desmatam no bioma amazônico foi criada em 2007 pelo governo brasileiro, com base nas taxas de aumento do desmatamento e área total desmatada. Atualmente, 42 municípios integram a lista, sendo que 20 estão em Mato Grosso, desses, nove estão na Bacia do Rio Xingu: Confresa, Feliz Natal, Gaucha do Norte, Querência, Nova Ubiratã, Marcelândia, Peixoto de Azevedo, Vila Rica e São Félix do Araguaia. O primeiro município a sair da lista foi Paragominas, no Pará.
Veja abaixo os critérios exigidos pelo MMA para sair da lista

  •  O município deve ter o Cadastro Ambiental Rural de pelo menos 80% de seu território, com exceção de TIs ou UCs de domínio público;
  • O desmatamento registrado em 2009 não pode ser superior a 40 Km²;
  •  A média do desmatamento dos dois últimos anos deve ser menor que o desmatamento registrado entre 2004 a 2007.
Querência já atende aos dois últimos critérios exigidos pelo Ministério do Meio Ambiente.

Os números de Querência
Área total do município – 1.790.875,90 hectares
Área de Terras Indígenas – 726.378 hectares (40% do território)
Área de Projetos de Assentamento – 96.132,25 hectares (9% do território)
Área das APRTs cadastrada na Sema – 725.926,8 hectares (71% do território)
Nascentes mapeadas – 1.153
Áreas de Preservação Permanente –345.961,23 hectares (19,32% do território)
APPs desmatadas – 13,39%


Fonte: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3171








22 de set. de 2010

Seleção para Pontos de Cultura Indígenas

OSCIPs podem se inscrever até o dia 1º de novembro

Foi publicado no último dia 15, no Diário Oficial da União (DOU), o Edital para selecionar Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) para implementar 92 Pontos de Cultura Indígenas. As propostas para o Edital, lançado pela Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SID/MinC), podem ser encaminhadas até o dia 1º de novembro.

O objetivo do edital é celebração de parcerias com as OSCIPs para que possam ser criados Pontos de Cultura que visem à promoção e o fortalecimento das identidades e da diversidade cultural dos povos indígenas no Brasil. Além de ações que potencializem os processos de criatividade culturais das comunidades beneficiadas pelos Pontos de Cultura Indígena.

O valor para os Pontos de Cultura fora da Amazônia Legal é de cerca de R$ 195,5 mil e, para os Pontos que ficarão dentro da Amazônia Legal de cerca de R$ 226,5 mil. Esse valor será dividido em três parcelas, sendo 90% dos recursos para implantação e funcionamento dos Pontos e 10% para taxas de administração e gestão da OSCIP. A primeira parcela será efetuada após a publicação do Termo de Parceria para subsidiar o início dos trabalhos. Cada OSCIP poderá apresentar a sua proposta de implantação dos Pontos de Cultura Indígena em, no máximo, duas regiões do Brasil.

Para concorrer, as entidades deverão cumprir as cláusulas de habilitação jurídica, regularidade fiscal e qualificação econômica-financeira, bem como cumprir todas as exigências do Edital.

Confira o Edital.
Informações pelo e-mail: identidadecultural@cultura.gov.br
FONTE: http://www.cultura.gov.br/site/2010/09/17/aberta-selecao-para-pontos-de-cultura-indigenas/

21 de set. de 2010

UMA FLORESTA DE HISTÓRIAS - CONTOS DE ÁRVORES MÁGICAS DO MUNDO TODO

Os sete contos deste livro inspiram-se no folclore de sete povos diferentes. Cada um deles tem como personagem central uma árvore dotada de poderes mágicos. Essas belas histórias decerto levarão o jovem leitor a olhar com maior ternura e respeito as árvores reais que o cercam. Talvez este seja o primeiro passo para uma reflexão sobre os critérios e normas que devem nortear a ação do homem sobre a natureza.

Dados técnicos:
FLORESTA DE HISTÓRIAS, UMA - CONTOS DE ÁRVORES MÁGICAS DO MUNDO TODO
CANN, HELEN - ilustrador
SINGH, RINA - autor

Editora: WMF MARTINS FONTES
ISBN: 9788578270216
ISBN-13: 9788578270216
Edição: 1ª EDIÇÃO - 2008
Numero de páginas: 64
Formato: BROCHURA

8 de set. de 2010

R$ 1 milhão em projetos para mulheres indígenas

A Carteira Indígena, coordenada pelos ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, dispõe de R$ 1 milhão para projetos voltados às mulheres indígenas. A meta é fortalecê-las, fomentar segurança alimentar e nutricional e incentivar uma boa gestão ambiental de suas terras.

Podem enviar proposta de projetos, até dia 4 de outubro, associações de mulheres indígenas e entidades que cumpram as diretrizes da Carteira Indígena. Estes devem incluir atividades econômicas sustentáveis e fortalecimento de práticas e conhecimentos tradicionais para o sustento dos povos indígenas.

A saúde das mulheres também é preocupação da Carteira Indígena, pois um estudo da Fundação Nacional da Saúde apontou um crescimento entre elas de sobrepeso, obesidades, hipertensão, diabetes e altos índices de anemia.

Os projetos deverão ser enviados para:

Ministério do Meio Ambiente - Carteira Indígena
Esplanada dos Ministérios, Bloco B, Sala 751,
CEP 70068-900, Brasília/DF.
http://networkedblogs.com/7Ed8E
 
* Foto de MÁRCIA MOSSMANN   

2 de set. de 2010

Da biodiversidade às florestas e pajés

Como preservar, além do meio ambiente, as culturas tradicionais indígenas e seus valores políticos e sociais? Essa discussão faz parte do debate sobre as estratégias nacionais de combate às mudanças climáticas

Por Washington Novaes*

Neste Ano Internacional da Biodiversidade, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) traz boa notícia: o desmatamento e a conversão de áreas florestadas para a agropecuária caíram na década 2000/2009 para 13 milhões de hectares anuais (ou 130 mil km2, pouco mais de metade da superfície do Estado de São Paulo), ante 16 milhões de hectares anuais na década anterior. Mas complementa: ainda assim, o "ritmo de perda de florestas tropicais continua alarmante".

Brasil e Indonésia, diz o relatório da FAO, são os principais agentes desse desmatamento. E o estrago só não foi maior porque China, Índia, EUA e Vietnã plantaram 7 milhões de km2 anuais de florestas na década. Com isso, a perda líquida caiu de 8,3 milhões de hectares anuais, na década anterior, para 5,2 milhões de hectares anuais, na última. E a superfície florestal mundial ficou em 4 bilhões de hectares (ou 40 milhões de km2), cerca de 31% da superfície terrestre.

Os números do Brasil no relatório são fortes: 2,6 milhões de hectares anuais (ou 26 mil km2) desmatados em todo o País na última década, ante 29 milhões de hectares anuais na década de 90. E isso tem consequências graves, já que os 900 especialistas de 178 países reunidos pela FAO não hesitam em dizer que as florestas "têm um papel muito importante" na mitigação de mudanças climáticas, pois armazenam 289 bilhões de toneladas de carbono, mais do que já está acumulado na atmosfera e intensifica o efeito estufa. Sem a floresta, o carbono liberado irá para a atmosfera. E as florestas primárias atualmente representam 36% da superfície florestal total. Delas, 1% é atingido a cada ano por incêndios.

Por onde se poderia avançar na proteção das florestas e da biodiversidade? Está em curso uma discussão semelhante à que ocorre na área do clima, com muitos especialistas propondo a criação de uma entidade fora do âmbito da ONU, porque neste as decisões só são tomadas por consenso, e ele não acontece por causa das divergências entre países-membros. Desde a Rio 92, quando foi criada, a Convenção da Diversidade Biológica está empacada na discussão sobre a soberania dos países detentores da biodiversidade e a repartição de benefícios quando alguma espécie neles pesquisada é transformada em produto industrial patenteado em outro país. Enquanto não se avança, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) diz que um terço do 1,9 milhão de espécies já identificadas está em "situação crítica". Dos 34 "hotspots" (lugares mais ameaçados no mundo), 2 estão no Brasil: Cerrado e Mata Atlântica.

Detentor da maior biodiversidade planetária, o Brasil precisa prestar atenção a mais um relatório - Indigenous Lands, Protected Areas and Slowing Climate Change -, publicado pela PLoS Biology, com a participação dos pesquisadores brasileiros Britaldo Soares Filho (UFMG) e Gustavo A. B. da Fonseca (diretor de projetos no WWF/EUA). Diz o estudo que a proteção de áreas florestais, com a redução do desmatamento e da degradação, é uma das estratégias mais eficazes e de efeito imediato para enfrentar mudanças climáticas. Por isso, deve ser incorporada às estratégias para redução de emissões de gases poluentes. E, nesse contexto, a prioridade deve ser para a criação de áreas indígenas protegidas e unidades de conservação - que, além do mais, gera trabalho e renda para populações locais. Desde 2002, afirma o estudo publicado, o desmatamento na Amazônia foi 11 vezes menor nas áreas indígenas e unidades de conservação do que nas áreas não protegidas. O cálculo feito é de que até 2050 essas áreas indígenas e protegidas evitarão o desmatamento de 259 mil km2, mais que a área do Estado de São Paulo.

São informações importantes, na hora em que tantas objeções se levantam em certos setores contra a demarcação de áreas indígenas - quando elas são vitais para a conservação da biodiversidade (nossa melhor possibilidade de futuro) e o enfrentamento das mudanças climáticas. Mas há uma questão adicional que pede muita atenção de estudiosos e dos próprios indígenas: o problema da educação nas aldeias.

Há poucos dias, uma comissão de índios de Roraima entregou ao governo do Estado minuta de projeto para a criação da carreira pública de professor indígena - em que o candidato precisará ser indígena, ter aprovação da comunidade, morar na aldeia e ter capacidade de implantar o ensino bilíngue. Nesse último ponto pode estar um complicador, que exige discussão e reflexão.

Nas andanças pelas aldeias do Parque Indígena do Xingu e áreas vizinhas, em todas o autor destas linhas ouviu dos chefes mais velhos e experientes que "o ensino bilíngue é que está acabando com a nossa cultura". Porque, na visão deles, ao aprenderem português, as crianças e jovens passam a ver televisão e conviver com as culturas de fora. A partir daí, querem viver como os jovens brancos, consumir o que estes consomem e não querem mais viver como índios. Mais grave, não querem ser pajés, porque o caminho para ser pajé é longo, difícil, cheio de sacrifícios e riscos, abstinências, etc. Mas, naquele mundo regido por espíritos - cada árvore, cada animal, tem um espírito regente -, se não houver pajés, que fazem a intermediação entre ele e o cotidiano, a cultura tradicional desaparecerá, pois todos os cantos, as danças, os rituais e modos de viver são relacionados com espíritos. O número de pajés em cada aldeia já diminuiu drasticamente. Há aldeias já ameaçadas de ficar sem nenhum.

É complicado, pois impedir o contato com culturas de fora já é impossível. Mas como preservar, sem pajés, as culturas tradicionais e seus valores políticos e sociais, além do meio ambiente, tão importantes? É uma discussão a que não se pode mais fugir. Faz parte, na verdade, da discussão sobre as estratégias nacionais mais importantes.

*Washington Novaes é jornalista. Este artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo