15 de ago. de 2010

Açaí conquista o mundo, mas se elitiza na Amazônia

Popularização da fruta em São Paulo, Rio e exterior fez preço disparar e reduziu consumo em sua terra natal

Para historiadora, há mudança profunda na identidade regional; a longo prazo, diz, valor do açaí será simbólico

JOÃO CARLOS MAGALHÃES

DE BELÉM
A popularização do açaí no mundo está elitizando o consumo da fruta em sua terra natal, a Amazônia. Números divulgados recentemente mostram que, nos últimos 16 anos, ele se tornou um alimento caro -e isso pode indicar uma mudança profunda na identidade regional, diz uma estudiosa.

Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o litro do açaí no Pará, que custava R$ 1,50 em 1994, subiu 650%. Hoje, chega a custar mais de R$ 11.

Se tivesse aumentado no ritmo da inflação, estaria só em R$ 5,50. E o preço pesa, por dois motivos.

Primeiro, porque o consumo é alto: tradicionalmente, o açaí era servido no café da manhã, almoço e jantar.

Segundo, porque os que mais dependiam da fruta eram os mais pobres. No Pará, 1,2 milhão de pessoas ganha menos do que um salário mínimo (R$ 510).

Resultado: cada vez os paraenses comem menos açaí. Apesar de não existirem dados estatísticos, a tendência não deve arrefecer, afirma Roberto Sena, do Dieese.

"Podemos dizer com tranquilidade: o açaí não é mais o arroz com feijão do paraense", diz, lembrando que até o vermelho da bandeira do Pará é associado à fruta.

Sena atribui a explosão do preço ao aumento gigantesco da demanda, que ultrapassou em muito a capacidade de produção.

Antes uma fruta de consumo apenas local, há cerca de dez anos seu gosto invadiu as academias e praias de São Paulo e do Rio, o mercado dos EUA e a Europa.



"SUPERSAUDÁVEL"

Levado pela fama de ter elementos antioxidantes e retardar o envelhecimento, ele foi adotado pela megacelebridade americana Oprah Winfrey, já eleita a "mulher mais influente do mundo".

Nos últimos dois anos, Winfrey "bombou" a "comida supersaudável", como o açaí foi apelidado por médicos dos EUA, em seu programa de TV e em seu site.

Na trajetória fora da Amazônia, ele virou suco industrializado, foi embalado em pílulas e, mais comum, servido doce em tigelas com frutas e granola -o que, para os paraenses acostumados a comê-lo grosso, com peixe ou charque, é uma piada.

A historiadora Leila Mourão vê na elitização e substituição do açaí um signo de um movimento histórico mais amplo: a integração da cultura amazônica com o resto do mundo, intensificada na ditadura militar (1964-85).

"Mas não se transforma o hábito por opção, e sim por necessidade econômica. Hoje, é elegante, civilizado comer arroz e macarrão. Se você olhar a propaganda dos supermercados, nos jornais, o que aparece? Pizzas, churrascos. Açaí não dá status."

Mourão, que fez seu doutorado em história social sobre a cultura da fruta, acredita que, no longo prazo, seu valor será apenas simbólico.

Em sua pesquisa, ela notou que, nos últimos dez anos, metade das bancas avulsas que vendiam a fruta em Belém sumiu.

"O consumo migrou para as grandes redes de supermercados. De certo modo, a comida foi desumanizada. É toda uma tradição que está se perdendo", afirma.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1508201008.htm 
Imagem: Portal da Amazônia 

14 de ago. de 2010

Palestra Saberes e Sabores:uma nova mesa amazônica

Nesta quinta-feira, 12 de agosto, realizaremos a palestra Saberes e Sabores - uma nova mesa amazônica, sobre a produção e consumo de hortaliças não convencionais, com Catarina Jakovac, consultora em agroecologia do Musa.

São chamadas de “não convencionais” aquelas hortaliças pouco conhecidas da culinária da região, as quais dificilmente são encontradas em feiras e mercados locais, como a taioba, o ariá e o cubiu. Estas plantas nativas da Amazônia possuem significante valor nutritivo e sabor agradável, o que, aliado ao baixo custo de produção, fazem-nas uma alternativa viável para uma alimentação saudável de nossa população.
Através de oficinas de capacitação e assistência técnica promovidas pela equipe do Musa, o Saberes e Sabores promove a produção destas hortaliças no Projeto de Assentamento Água Branca, no Puraquequara, bairro da Zona Leste de Manaus. Atualmente, esses produtores cultivam organicamente 15 diferentes hortaliças que hoje incrementam a renda das famílias envolvidas. A divulgação deste projeto faz parte dos esforços para a construção de novos hábitos alimentares que respeitem a cultura local, disseminando estes conhecimentos como uma alternativa de alimentação saudável e de baixo custo, baseada no uso sustentável da terra.
A palestra é gratuita e aberta ao público em geral. Na ocasião, haverá degustação de doces e sucos, além da venda das hortaliças após a palestra pelos próprios produtores.
Palestra: Saberes e Sabores - uma nova mesa amazônica

Palestrante: Catarina Jakovac / Museu da Amazônia (Musa)

Data: 12 de agosto
Horário: 17h
Local: Sede Administrativa do Museu da Amazônia (Musa)
Avenida Constelação, 16, Conjunto Morada do Sol, Aleixo
Msc. Ana Catarina Conte Jakovac
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF)
tel. (92) 3643-3229 ramal 25
http://www.pioneiras.blogspot.com/

MUSA - Museu da Amazônia
http://www.museudaamazonia.org.br/
catarina@museudaamazonia.org.br

9 de ago. de 2010

“ Oió, a Luta dos Meninos Xavante”

O vídeo “ Oió, a Luta dos Meninos Xavante” realizado pela Nossa Tribo, com a direção de Caimi Waiassé e Jorge Protodi foi classificado para o 21º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que será realizado de 19 a 27 de agosto de 2010 para a Mostra Kino Oikos Formação do Olhar 03.

A sede do Festival será na Cinemateca Brasileira (Lgo. Senador Raul Cardoso, 207 – V.Mariana), mas a programação do Festival de Curtas vai se estender a diversos espaços da cidade.

Nossa Tribo:Associação sem fins lucrativos, coordenada pela fotógrafa Rosa Gautitano , tem por objetivo ampliar a comunicação entre os povos tradicionais indígenas e os não índios. Defendendo a diversidade cultural, ambiental e os direitos humanos, promove e realiza cursos de informação, documentação e projetos culturais que resultem na divulgação das diferentes culturas indígenas, estimulando o desenvolvimento sociocultural democrático, a preservação de suas tradições e a garantia de acesso dessas etnias à informação.

Para saber mais sobre o projeto Nossa Tribo, acesse: http://www.nossatribo.org.br/

foto de Rosa Gauditano

5 de ago. de 2010

História do Médio Rio Negro é tema de curso e de viagem no tempo

[05/08/2010 14:00]

Organizado pelo ISA e pelas associações indígenas dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos (AM), com apoio da Foirn e das secretarias municipais de educação dos dois municípios, o Curso de história do Médio Rio Negro foi ministrado pelo historiador José Ribamar Bessa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entre 21 e 24 de julho em Barcelos. O curso foi como uma viagem ao tempo passado que estimulou discussões sobre identidade étnica, valorização das línguas indígenas e pesquisas acerca das trajetórias pessoais, memórias e narrativas regionais.

Cerca de 60 participantes, entre professores das comunidades, das sedes municipais e lideranças de associações indígenas, receberam uma coletânea de textos, documentos e livros escritos entre os séculos XVIII e XXI com relatos de viajantes, missionários, historiadores e antropólogos que se debruçaram sobre a história do Rio Negro. Produzido pelo professor Bessa com apoio do historiador Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, da Universidade Federal do Amazonas, o material permitirá acesso a publicações que dificilmente iriam circular nas salas de aula da região. O material não pretende ser exaustivo. Trata-se de uma coletânea de trechos de fontes históricas e etnografias que deve servir de referência para pesquisas mais aprofundadas nas fontes apresentadas e em outras.

Os organizadores acreditam que saber mais sobre a história do Amazonas, e especificamente do Médio Rio Negro, pode despertar curiosidades sobre a história da região, estimulando as pessoas a se aprofundarem nos assuntos discutidos e na busca da trajetória de suas próprias famílias.

Em meio a uma atmosfera descontraída, com humor e dedicação, as histórias e relatos foram discutidos pelos participantes durante os quatro dias de curso.

O arco da memória
A imagem de um arco foi usada pelo professor Bessa para ilustrar as reflexões dos participantes do curso sobre a importância de conhecer o passado: “viajar no tempo”, como disse a vice- presidente da associação indígena de Santa Isabel, Acimrn (Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro), Sandra Gomes de Castro.

No primeiro momento do curso discutiu-se a importância do uso de fontes e registros históricos como orientadores para compreensão dos fatos e eventos ocorridos em uma determinada época e, de que maneira eles influenciaram e ainda podem contribuir para os tempos presente e futuro.
Conhecer a história dos antepassados, ler documentos e conversar com os velhos são etapas do processo de pensar sobre o passado para então organizar o presente e projetar o futuro. “É como atirar com arco e flecha, é preciso um pouco de impulso para trás para então avançar ao futuro. Contudo, temos que tomar cuidado com o recuo para trás para não perder de vista o futuro, para não quebrar o arco”, enfatizou Bessa.

Os depoimentos e debates durante o curso marcaram um aspecto indissociável do processo de busca pelo conhecimento e entendimento do passado: o político. Bessa trouxe para o debate o pensamento de um filósofo francês chamado Gilles Deleuze que diz em seu livro Conversações: “Aquilo que se opõe à memória não é o esquecimento, mas o esquecimento do esquecimento”. O contrário da memória não é o esquecimento, é esquecer que esqueceu. Pois, se não sabemos nem mesmo o que esquecemos, como iremos procurar? Trabalhar a memória, nas suas diversas formas de apresentação – oral, escrita, desenhada – é buscar aquilo que se esqueceu, que se deixou de lembrar, mas que ainda está ali, de alguma maneira registrado.

Leia mais em http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3140